O que é um cassino na mitologia grega: Lendas, Deuses e Simbolismos

A ideia de um “cassino” como o conhecemos hoje, um local específico para jogos de azar, entretenimento e apostas comerciais, não existia na forma estruturada de um edifício como na Grécia Antiga. A concepção moderna de cassino é um desenvolvimento muito posterior na história humana, surgindo em contextos socioculturais e econômicos específicos.

No entanto, a prática do jogo, do acaso e da sorte, bem como a relação com o destino e o poder dos deuses sobre os eventos, eram conceitos profundamente enraigados na mitologia e cultura grega. Embora não houvesse um “cassino” físico, a essência do que um cassino representa – a busca por fortuna, a aposta em resultados incertos e a influência do destino – pode ser encontrada em diversas lendas e simbolismos.

A Divisão do Cosmos: O Primeiro Grande “Jogo” dos Deuses

Talvez o exemplo mais emblemático do conceito de acaso e divisão na mitologia grega esteja na história da partilha do universo entre os três grandes deuses olímpicos: Zeus, Posseidon e Hades.

Após a vitória sobre os Titãs e a queda de Cronos, os três irmãos decidiram como iriam governar o cosmos. Não houve uma negociação formal ou um acordo de poder; a divisão foi feita por sorteio.

  • Zeus tirou a parte do céu e do governo sobre os deuses e humanos.
  • Posseidon ficou com os mares e oceanos.
  • Hades recebeu o submundo e o reino dos mortos.

Este “sorteio” primordial é o equivalente mais próximo a uma “aposta” ou “jogo de dados” divino, onde o destino de todo o universo foi decidido pelo acaso. Os deuses confiaram na sorte para determinar seus domínios, e essa decisão foi final e irrevogável, mostrando a importância do elemento imprevisibilidade no cosmos grego.

Deuses do Acaso e da Sorte

Embora não houvesse uma “deusa do cassino”, diversos deuses e entidades mitológicas estavam associados ao acaso, à sorte e ao destino, elementos centrais em qualquer jogo de azar:

  • Tyche (Fortuna Romana): Embora mais proeminente na mitologia romana como Fortuna, a deusa grega Tyche era a personificação da sorte, do acaso, da fortuna e do destino de cidades e indivíduos. Ela era frequentemente retratada com uma cornucópia (símbolo da abundância) e, às vezes, com um leme (guiando o destino) ou uma roda (símbolo da inconstância da sorte). As pessoas a invocavam antes de empreitadas incertas.
  • As Moiras (As Parcas Romanas): As Moiras eram as três deusas do destino, que teciam o fio da vida de cada mortal desde o nascimento até a morte. Embora não estivessem ligadas ao “jogo” no sentido de aposta, elas representavam a força incontrolável do destino e do acaso inevitável que moldava a vida dos seres, inclusive dos deuses.
  • Hermes: O mensageiro dos deuses, Hermes também era o protetor de ladrões, mercadores, viajantes e, por extensão, daqueles envolvidos em negociações arriscadas e jogos de sorte. Ele era associado à astúcia e à imprevisibilidade.

O Jogo como Entretenimento e Ritual

Na Grécia Antiga, jogos de azar eram praticados, embora não em edifícios dedicados como cassinos. Dados (conhecidos como astragaloi, feitos de ossos de animais) eram usados em jogos de sorte. O jogo era uma forma de entretenimento, mas também podia ter conotações rituais ou divinatórias, onde o resultado era interpretado como um sinal dos deuses ou do destino.

  • Simbolismo da Sorte e Desgraça: A sorte era vista como algo que poderia vir e ir, dependendo do favor divino ou da inconstância de Tyche. Ganhar ou perder em um jogo era um reflexo dessa inconstância, uma lição sobre a transitoriedade da fortuna.
  • Moralidade e Húbris: Embora os gregos apreciassem o entretenimento, o excesso de confiança na sorte e a aposta irresponsável poderiam ser vistos como húbris (arrogância excessiva), que frequentemente levava à queda de mortais e até mesmo de deuses.

Conclusão

Em resumo, um “cassino” na mitologia grega não existe como uma estrutura física. No entanto, o espírito do jogo, do acaso e da aposta no destino está profundamente entrelaçado nas lendas e crenças dos gregos antigos. Desde a divisão primordial do universo entre os deuses até a influência de Tyche e as Moiras na vida dos mortais, a ideia de que o acaso e a sorte desempenham um papel crucial no universo era uma verdade inegável. Os jogos eram uma manifestação terrena dessa verdade maior, lembrando a todos a imprevisibilidade da fortuna e o poder dos deuses sobre os acontecimentos.

Você consegue identificar outros exemplos de “jogos de acaso” na mitologia?

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